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Adilson Cardoso
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Coluna do Adilson Cardoso – O cara errado

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Coluna do Adilson Cardoso – O cara errado

Preste atenção que não vou repetir uma só palavra!  Quero cem mil reais, você vai levar o dinheiro em notas graúdas dentro de uma bolsa grande, daquelas camufladas do exército. O ônibus para Salinas sairá por volta de onze e trinta, estarei lá dentro com sua agem, se ele der a partida sem sua presença, vou embora de mãos vazias, mas a cabeça do maridinho será deixada no seu portão cinco minutos depois! – O telefone é brutalmente desligado, a mulher se desespera.

Não meu Deus, não pode ser! Isso não pode estar acontecendo comigo!

O telefone volta a tocar, ela corta o choro, com as duas mãos pressiona a boca. Os olhos arregalados observam o piscar lancinante da tela, indicando número desconhecido. Avança e aperta a tecla com força desproporcional.

Alô, alô, por amor a Deus, deve estar havendo um engano! Somos pobres, moramos em um apartamento de programa social do governo! Sou Salgadeira e meu marido é motorista de taxi, nem toda nossa família reunida em dez gerações teria este dinheiro! – Argumenta a mulher gesticulando loucamente.

Escuta aqui ô piranha do caralho! Cada segundo que você perde com essa ladainha idiota, é vida a menos para este monte de merda! Já estou com as agens em mãos, sentaremos bonitinhos e iremos conversando como velhos amigos, ou se preferir que eu lhe beije e e a mão nestes peitos moles, posso fazer um esforço (risos). Na primeira parada fora da cidade vamos descer e tomar outro rumo. Lá eu te deixarei livre para se foder onde quiser! Só leva meu dinheiro porra, que eu não estou brincando! – Após um grito metalizado que se alojou em ecos na cabeça dela o telefone foi novamente desligado.

Cintilava ainda que distante lampejo de probabilidades de que fosse alguma brincadeira do marido, pois não eram raros os momentos em que ele lhe pregava peças envolvendo situações como esta. Mas as esperanças foram minguando á medida que tentativas de contato denunciavam seu numero desligado ou fora de área. Um colega do ponto de taxi informou que havia saído para uma corrida, ainda no inicio da manhã, mas não retornara.  O desespero tomava conta dela, o relógio marcava oito e quarenta, não sabia o que pensar, pelas contas marcando nos dedos suados, faltava duas horas e vinte minutos. Cem mil reais, não tinha noção do que significava aquela quantia toda, além da miséria que ganhava entregando salgados e o que o marido lucrava do taxi, só vira um pouco mais de dinheiro na época em que fizeram empréstimo para dar entrada no apartamento. Lembrou-se de um filme americano que assistiram há poucos dias. Um professor de dança brasileiro era sósia de um traficante Americano de nome Steel, procurado pela polícia e jurado de morte por outros bandidos.  Para ganhar tempo e fugir, mandou oferecer um milhão de dólares, para o professor se ar por ele em um evento de um dos mais renomados produtores de cinema de Hollywood, na mansão do ator e diretor Brandy Waters. O educador tentou se esquivar nos primeiros momentos, mas ao ver a maleta com a quantia cheirando a mudança de vida, aceitou. Na entrada estava acompanhando de dois falsos seguranças e fumava charuto cubano do Paraguai. Simultaneamente Steel embarcava para o Brasil, onde planejava inaugurar as filiais do tráfico e se beneficiar das leis brandas que o mundo todo conhecia. De volta à festa o professor bêbado era o centro das atenções, mas algo soava diferente, os negociadores de drogas que se aproximavam para cumprimentá-lo indagavam o desconhecimento dos códigos que habitualmente usavam para se comunicarem em público. Um dos desafetos que monitorava o traficante mandou reunir seu exercito e entrou aterrorizando, armas de grossos calibres atirando em todo mundo e fazendo a limpa em bolsos e bolsas, mas a policia também havia sido informada e chegou com carga máxima, inocentes e bandidos se misturavam em sangue e desespero, por cima um helicóptero iluminava os cantos escuros e não poupava fogo. O professor  saiu inteiro,  fugindo no porta-malas do carro de um cerimonial. Porém  o segredo da trama se revelaria a seguir. Walbertini Mosqueiro era o nome dele, também conhecido por “Wampiro” ex-ladrão de cargas, negociou sua liberdade culpando gente inocente da Comunidade Cabana Pai Thomaz em Belo Horizonte, também fizera um mapa de rota das drogas que saia dali para outros pontos da cidade, entregando ao chefe de uma “Boca Rival” por cinqüenta mil reais. Resultado das suas traições foi um massacre de quarenta e oito pessoas, entre bandidos, trabalhadores, mulheres e crianças.  Wampiro havia desaparecido, mas seu rosto não seria esquecido. Steel o  traficante americano seu sósia  já se sentia em casa, há uma semana desfrutando  do sabor da culinária e da hospitalidade mineira, tomava cerveja nos bares da periferia  e deixava gorjeta em dólar. Estados Unidos era página virada, sorria respirando o ar puro que vinha da Serra do Rola Moça, se lembrando das notas falsas  entregues ao Professor. Começava a contratar seus advogados e se informar das leis maleáveis que o pais proporcionava, queria dobrar seu patrimônio, como poderia se beneficiar. No terceiro mês, foi convidado para conhecer aquele que seria o seu maior cliente, “O Colombiano” na Comunidade Cabana do Pai Thomaz, acompanhado por um segurança armado achou estranho quando centenas de moradores com paus e pedras postavam-se enfileirados no beco de entrada como se esperassem uma guerra, à medida que ele seguia mais pessoas iam surgindo, batiam portas em sinais de repudio, cuspiam no chão. Até começarem a jogar pedras, com fisionomia de coragem parou com a mão na cinta descobrindo a arma, olhou procurando O Colombiano em sinal de obter proteção, mas uma senhora mostrou a foto de sua filha e seus netos mortos, um homem de barbas ralas sobre uma cadeira de rodas segurava uma blusa furada de balas e marcas de sangue seco. A entrada do beco foi fechada, das janelas dos barracos foram despontando canos de armas, nervoso, o traficante arriscava um português sujo, balbuciava demonstrando pânico, as mãos finas com pulseiras e anéis de ouro se erguiam dizendo stop, mas balas insensíveis de espingardas, revolveres, pistolas e fuzis, não se curvam a clamores. Vozes gritavam sedentas “Morte ao Wampiro, morte ao Wampiro!” Foram mais de quatrocentos tiros, a seguir vieram os rojões comemorando a morte do traidor. Sua cabeça foi espetada em uma haste de madeira e deixada no alto do morro, numa faixa escrita em vermelho, posição vertical, era possível ler: “Justiça Cumprida”. O pavor estava incontrolável, não havia mais lágrimas para derramar dos olhos, as esperanças estavam por fiapos, já olhava as paredes se acostumando com o frio da saudade que o marido deixaria os beijos na testa, as danças sem jeito para quebrar a rotina dos dias, precisava se acostumar, mas não queria, girava a cabeça para afastar os pensamentos, mas era em vão, enxergava o marido gritando por socorro tendo o pescoço decepado por homens fantasiados de palhaços. Em outra visão ele corria nu pelas ruas e era alvo de tiros, motoqueiros avam em altas velocidades. Os filhos estudavam inocentes, chegariam exaustos e fomentos para juntarem-se a mesa dos pais, ela teria a triste missão de informar que ficaram órfãos, que o pai seria agora uma cruz no cemitério e uma lembrança dolorosa no peito de cada um. As lágrimas voltaram e a força de andar pela casa tropeçando em si mesma a fazia ir e voltar como paciente psiquiátrico em surto. O relógio não tinha o menor respeito pela aflição dela ou de qualquer outra pessoa no mundo, o objeto frio que só se importava com a sua caminhada, chegava ao doze e iniciava outra peleja para chegar ao doze novamente, ali aqueles ponteiros ridículos iam carregando os segundos que formavam minutos que formavam as horas, as horas formando dias, dias se fazendo de semanas, semanas de meses, meses de anos e anos.

— Aaahhhh! Droga, droga! Deixe a minha cabeça em paz! – Com as mãos arrochadas no meio dos cabelos, bateu fortemente a cabeça contra a parede e respirou com a boca, os lábios faziam movimentos involuntários lembrando um peixe em busca de oxigênio.

Em um canto da sala estava o barzinho ainda com os copos sujos da noite anterior, ali o marido e um amigo haviam bebido e tocado violão, ela queria sentir o cheiro dele, ou a língua na borda do copo, beijou onde supostamente a mão dele tocara. Ingeriu o restante do álcool que dormira no fundo do copo, era um sabor não identificável, mas havia outras garrafas, e uma por uma das bebidas foram sendo experimentadas em pingos de doses. Mas ainda não conseguia saber que sabor era aquele que o copo do marido transmitia, reiniciou as degustações, desta vez em doses maiores, pois o desespero ia dando lugar a um sentimento de aceitação, todos morreriam um dia, aquela seria a hora do marido. Não queria mais saber que sabor tinha o liquido do fundo do copo do marido, colocou uma dose grande de vodka e acendeu um cigarro, em dois goles intensos o copo estava vazio para ser novamente cheio. Antes de voltar a sentar-se olhou profundamente um quadro que estava em frente, era uma linda paisagem mineira, mostrava uma cancela aberta em primeiro plano e uma estradinha pequena, com marcas de rodas de uma carroça que ia longe carregando um grande fardo de capim. Nos planos distantes via-se um rio muito azul cercado de verde do lado, pouco acima uma casinha simples soltando fumaça pela chaminé. Na sua memória brotava as férias do mês de julho há cinco anos, casa de uma tia onde revira um primo que desde a adolescência perdera contato, tornara-se um homem alto, voz grave e braços fortes. Estava com mulher e uma filha, mas seus olhares disseram naquele momento que se perderiam numa daquelas estradas que iam até onde a vista não alcançava. De fato se perderam em demasia pelas matas, grudaram-se feito carrapicho e se banharam de suor. A cabeça dela já transformava em poesia tudo que pensava, vinte minutos para as onze horas, ela ligou o som para ouvir canções românticas que marcaram seus amores, ela e o primo tinham como preferência “Slave to Love” do cantor Brian Ferry, acendeu outro cigarro, colocou mais uma dose de vodka e não queria saber de mais nada, quando bateu-lhe o pensamento dos cem mil, disse a si mesma que com aquela quantia, realizaria o sonho de conhecer a França e a Grécia. Com coragem e disposição descreveu a policia tudo que ouvira do suposto bandido, Mas antes que concluísse os dados solicitados, o marido entrou calmamente assoviando como sempre fazia quando algo de bom lhe acontecia.

 

Adilson Cardoso
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