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Adilson Cardoso

Coluna do Adilson Cardoso – Também estou roubando

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Coluna do Adilson Cardoso – Também estou roubando

O estacionamento da Empresa ficava duzentos metros depois da porta de saída da sessão, trabalhar doze horas com intervalo de apenas sessenta minutos, se fartando do cheiro nauseante de borracha misturada a solvente ampliava o desejo de mudar de emprego. Mas quatorze de milhões de desempregados vagando feito zumbis em busca de oportunidades era um numero preocupante, o melhor seria fazer de conta que tudo aquilo era uma imensa floricultura, no mais sair correndo das dependências ao toque da sirene de saída era um bom argumento. Fautista era um nome estranho, ele próprio durante a infância questionara os pais, já que na escola sofria bullyng em todas as séries e salas que ava, talvez fosse ele a primeira vitima do sarro por causa de um nome. Há muito que adotara o codinome de “Tista” parte do seu nome e também homenageando um jogador de futebol que jogava no time da sua cidade natal, um bom jogador que tivera sucesso na vida com agens por times até da Europa. Mas o difícil era ar quando alguém tentando ser carinhoso o chamava de “Fau” para quem não sabe este fora a graça de um travesti famoso nos anos setenta na boca do lixo em São Paulo que fazia programa com os clientes ricos, depois os matava para roubar.

— Fau não, pelo amor de Deus! Ou me chame de Fautista ou apenas de Tista! – Foi o que dissera com violência a uma colega de turno quando se encontraram certo dia fora do trabalho.

O estacionamento era uma obra de grande esmero da Engenharia moderna, o operário saia das dependências da empresa e abria um portão grande que dava para um beco sem saída voltando a parede, ali havia uma rampa que descia quase dez metros até o subsolo de pilares robustos e paredes pintadas a branco gelo, bicicletas, motos e carros eram sutilmente acomodados em pequenas vagas, contando é claro com a mão habilidosa do Seu Julio Sarapatel, que dizia com orgulho ser o funcionário mais velho de serviços. Fora aposentado das funções internas de prensas e cortes, sendo recontratado após a criação do estacionamento. Naquele dia seu Julio estava com fortes contorções no intestino e ficava mais tempo sentado no vaso que na sua cadeira giratória. Um ladrão que buscava salvar o dia com algo alheio,  viu aquele portão escancarado e foi escada a baixo, irou os carros, motos e não se interessou em ver as bicicletas,  apontou uma arma para Fautista que estava acelerando a moto para sair.

— Perdeu, perdeu! Desce da moto e entregue a chave senão lhe o fogo! – Disse o ladrão com a arma empunhada em direção a vitima.

— Calma, calma! Cuidado com isso, vamos conversar! – Falou retirando o capacete vagarosamente.

— Tem nada de conversar não seu cú azul! Vaza ou eu atiro! – Respondeu irritado o ladrão, bem próximo dele.

— Também sou ladrão! Aproveitei que o portão estava aberto e entrei aqui para roubar! – Argumentou Fautista se aproximando do ladrão.

— Tá louco seu bosta, acha que vou cair em sugesta sua?! – Disse o ladrão se afastando.

— Moço não atrapalha o negocio não, nós temos pouco tempo para fazer uma moto e cair no gás! – Ponderou quase sussurrando no ouvido.

O ladrão olhou em volta, o analisou minuciosamente de cima em baixo, girou a cabeça como se começasse a crer naquele teatro, Fautista vendo que surtia efeito as palavras arregaçou as mangas da camisa e deixou uma tatuagem com uma caveira mal feita aparecer, tirou dos bolsos uma faca que cortava a borracha na mesa e colocou na cinta. O ladrão olhou novamente de cima em baixo e concordou.

— Então está certo, pega essa sua ai e vaza no mundo que eu vou levar aquela ali! – Apontou para uma 125 vermelha recém pintada que era de um primo da sua esposa. Mas demonstrando conhecimento e afinidade precoce com o bandido trocou as ultimas palavras;

— Aquela dali não vale dinheiro malandro!  Olhe um pouco mais a frente, veja a azulona, aquilo é Lander velho, está com a chave na ignição e o capacete em cima!

— Qual é meu? – Gritou o bandido. — Está achando que sou babaca, por que é que você está levando essa escrachada então?

— Para não levantar suspeitas, levaria a pequena descascada de pneus carecas e voltaria depois para  levar a  Lander. – Fautista concluindo a fala foi acelerando rampa acima.

O vigia ainda estava trancado dentro do banheiro, lá fora escondido atrás de um muro de lote vago, o operário viu o ladrão ar empinando a moto do seu encarregado de sessão. Com os olhos fixos e um sorriso sagaz, abanou com a mão quando não era mais possível enxergar o piloto, o ruído de alta velocidade foi diminuindo até desaparecer-se completamente.

— Pois é seu puxa-saco, você não pode liberar minhas horas extras não é? Agora vai ter que comprar outra motinha! Mas por enquanto vá sentindo o gosto de andar de ônibus lotado para chegar no horário certo, imbecil! – Fautista acelerou e foi embora dando gargalhadas.

Adilson Cardoso
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