Deseja Viajar? Garantimos os Melhores Preços!
CLIQUE AQUI - Para receber as notícias do Jornal Montes Claros direto no seu WhatsApp!!!
Adilson Cardoso
Adilson Cardoso

Coluna do Adilson Cardoso – Punindo os Culpados

CLIQUE AQUI - Para receber as notícias do Jornal Montes Claros direto no seu WhatsApp!!!

Coluna do Adilson Cardoso – Punindo os Culpados

Binha era menor que os outros irmãos, mesmo sendo mais velho. O que perdera no tamanho tinha de sobra na traquinagem. Há pouco fizera aniversário de quatro anos, mas chupava bico e sugava os fios de catarro que escorriam do nariz, estas eram apenas algumas das suas inumeráveis peripécias.

— Ave Maria Valda olha o menino chupando catarro, credo que nojo! – Gritava a cliente que fazia as unhas com a mãe do menino.

Valda se apossava do que estivesse ao seu alcance e arremessava no peste catarrento que saia dando pulos e zombando.

— Não acertou, não acertou!

— Quando seu pai chegar você vai ver seu traste! – Ameaçava como era de costume.

O pai sabia que ordinariamente o filho aprontava, não importa se era dia de sol, chuva ou casamento da viúva. Por isso ao abrir o portão já tirava o cinto da calça e recebia a benção dando uma lapada, o segurava pelo braço e reunia a mãe e os outros dois filhos.

— Binha jogou pimenta no meu mingau! – Relatava o bochechudo de dois anos.

Havia uma tabela para cada delito, mas pimenta no mingau era novidade e o pai não sabia como castigar. Para não cometer injustiça chamou a mãe em particular.

— E agora? Estou vendo aqui na caderneta das punições e pimenta no mingau não consta!

— Já sei, vamos ao vizinho da rua de trás, lá tem um parecido com ele!

Por hora estava suspensa a sessão do julgamento. Guta era uma espécie de Babá Free-Lance. Na sua casa tinha uma placa de “Fazemos Serviços Gerais” quando precisavam lavar um veículo, pagar contas em bancos, dar faxinas em casas e até fazer programas sexuais, contavam com ela, era de confiança em todos os segmentos. Saiu o casal levando a caderneta de punições que tinha na capa a foto de Binha, com muito esmero seu nome fora bordado. No interior as cento e cinqüenta páginas estavam quase todas preenchidas.

— Bom dia vizinhos da rua de baixo, desculpem-nos pelo incomodo a esta hora! – Falou o pai que minuciosamente descreveu o motivo da visita.

— Gostaríamos muito de ajudá-los, mas não temos nenhum filho que tome mingau. Serve punição para pimenta na sopa do vovô?

Os dois se olharam, buscaram na memória e decidiram não cometer injustiça. Despediram-se e aram do portão para a rua questionando a punição, como fariam.

— Oi Vizinhos da outra rua, nos lembramos que na Rua dos Bigodes numero 56 há um garoto parecido com os nossos! – Lembrou o casal gritando do portão.

A casa da rua indicada era cheia de grades, suas paredes estavam pichadas e um guarda uniformizado fazia rondas no quintal. Ao se identificarem o guarda soprou um apito e de uma espécie de bueiro surgiu uma mulher. Eles se identificaram novamente e contou o motivo da visita, ela identificou-se também e lamentou-se por nada poder fazer para ajudá-los. Se pimenta no suco da vovó valesse ela poderia lhes fornecer a copia da punição. Novamente os pais de Binha não aceitaram, mas antes de sair foram informados que em um município vizinho havia um pestinha parecido com os seus. Lá foram eles, entraram no ônibus no ponto indicado e desceram um km antes da casa. Andaram pedindo informações vagas com o que sabiam, até que um carroceiro que conhecia as pessoas deixou que eles subissem junto aos entulhos que levava e foram papeando. Apresentaram-se e contaram tudo, a história do menino parecia familiar, o carroceiro contou a sua e disse que naquela casa eles não encontrariam o que procuravam se servisse pimenta na água do cachorro voltariam com um alento.

— Infelizmente não serve! – Disse o pai!

— Mas como é que o senhor pode ter tanta certeza? – Observou a mãe.

— Estão vendo aquela casa branca com umas ramas de maracujá cobrindo as telhas? – Apontou o carroceiro.

— Sim! – Responderam juntos.

— A casa é aquela e eu moro lá! – Disse o carroceiro acendendo um cigarro.

— O senhor não vai parar? – Interrogou o pai encarando o carroceiro.

— Aqui não!  Tem ladrão demais se eu parar fico sem meu burro! – Ponderou o carroceiro que sacudiu as rédeas para o animal correr.

Menos de três minutos a carroça estacionava em frente á casa branca sem muro, aspecto sujo portas de madeiras esburacadas, um grande pé de Maracujá cobrindo parte das telhas. Cachorros magrelas e orelhudos latiam e abanavam os rabos. O casal se olhava sem ter o que dizer, além da casa havia outros barracos que desciam numa espécie de vala, o aspecto de sujeira era ainda pior. O carroceiro pediu que eles descessem, ao pedirem para serem levados de volta até um ponto de ônibus, mesmo com a promessa de pagamento foi negado. Da porta da casa surgiu uma mulher gorda com um vestido estampado de pano barato, estava descalça. Enquanto eles observavam a mulher dois homens negros vieram da direção dos barracos, um estava sem camisa com um facão nas mãos, o outro tinha uma espigarda nos ombros e um coelho morto dependurado. O casal foi obrigado a entrar na casa de pouca luz e cheiro de sujo, a mãe chorava baixinho, engolia com ataques de tremulações, foram jogados separados em um sofá esburacado. O carroceiro saiu e foi até a carroça, voltou com uma garrafa de cachaça, os quatro começaram a beber, sentados em silêncio olhando para o casal que se agarrava de olhos. Tomaram o que eles traziam na bolsa e nos bolsos, não havia mais dinheiro, celulares ou relógios. O carroceiro bêbado dizia coisas irônicas, a mulher de vestido sujo sorria sem os dentes da frente, era mais feia quando estava mais próxima. Ela pegou a mão do Pai de Binha e quis que ele a acompanhasse, relutante foi ameaçado por um dos negros que vieram dos barracos. O carroceiro saiu com o dinheiro para comprar mais bebidas e a mãe de Binha foi desnuda pelos dois negros, do quarto com a mulher que não estava mais com o vestido sujo o marido escutava os gritos da esposa. A noite ou lenta e dolorosa, os gritos embriagados naquela casa sem luz contracenava com figuras de ratos enormes correndo no interior. Quando o dia raiou foram sentenciados de morte. Diante deles aquelas quatros figuras feito os cavaleiros do Apocalipse no “Warfare a Noise” (Coletânea de Rock Pesado) Seguravam livros de magia e liam suas sentenças, desatinos como violação de leis que nunca ouviram fala, só naquele instante mãe e pai se atinaram para a crueldade que cometiam em chegar até ali em busca de punição para aquela criança. Amarrado as mãos o pai foi suspenso pelo cabelo enquanto um facão afiado foi em direção ao seu pescoço.

— Nããão, por favor! – Vociferou o pai de Binha pulando literalmente da cama.

— Que foi homem, está ficando louco? Deus me livre! – Ralhou a mãe se virando para o canto da parede.

Por Adilson Cardoso

Adilson Cardoso
Adilson Cardoso
 

Acompanhe mais notícias no Jornal Montes Claros.com.br e fique por dentro dos principais acontecimentos da região!

CLIQUE AQUI - Para receber as notícias do Jornal Montes Claros direto no seu WhatsApp!!!

Sobre Jornal Montes Claros

Últimas notícias de Montes Claros e da região Norte de Minas Gerais. Acompanhe a cada minuto ás informações em tempo real de interesse para o cidadão.