Cultura Moc – Festas de Agosto: Tim, o herdeiro da Marujada‏

Os versos de Geraldo Paulista revelam  a devoção do personagem de hoje. É a música favorita de Iderielton Oliveira da Cruz, apelidado “Tim” na infância e conhecido assim em toda Montes Claros.

São 177 anos de festa. Destes, Tim Marujo, com 43 anos de idade, já soma 42 de Festas de Agosto. Mestre Nenzinho, pai de Tim, faleceu em 2007 e então o herdeiro experimentado, como bom filho, assumiu o comando da nau. Atualmente, 78 pessoas compõem o grupo. Para Tim, o que conta é “o prazer de manter a cultura, tradição e união familiar. É o único grupo que nunca trocou de família”.

Perguntado sobre o melhor dos cinco dias de festa, responde: “é o sábado”.

A resposta tem um motivo: é o dia em que muitos montes-clarenses saem às ruas para assistir à agem do cortejo do Divino Espírito Santo, depois do mastro levantado na noite de sexta, onde os devotos cantam, dançam e rezam para festejar o Divino, que protege a marujada. Para Tim, embora a Festa de Agosto tenha se tornado um evento grandioso em número de atrações e visitantes, a parte mais interessante é a religiosa: cortejo, levantamento do mastro e a missa.

A Marujada é afetiva e recebe a todos que dela querem participar, mas, de acordo com Tim, “de última hora só recebemos crianças. Os mais velhos que querem entrar  pedimos para esperar até o próximo ano, já que os ensaios começam no mês de abril e prosseguem até agosto. É que as crianças aprendem mais rápido e, no caso de erro, destoam menos do restante do grupo”.

Quem pensa que é fácil a vida de marujo, se engana. O ofício exige disponibilidade e dedicação. Nos dias de festa, os marujos saem de casa às 7 da manhã e a pedido dos que querem vê-los, percorrem as escolas antes de chegar ao lugar da concentração, na Praça Dr. João Alves (Praça do Automóvel Clube). “Depois do cortejo almoçamos, visitamos três ou quatro casas, buscamos a bandeira e retornamos para o asfalto. De sete da manhã até meia-noite a gente tá na rua”, acrescenta.

O grupo ensaia de abril a agosto, nas noites de sábado. Tudo para ficar perfeito e sintonizado. Composta de duas alas, a marujada leva para o asfalto nos cinco dias de festa a batalha entre cristãos e mouros. Tim explica: “houve uma guerra em alto mar. Uma parte da embarcação ficou com o patrão e outra com o contramestre. Este matou o patrão e jogou o corpo no mar. O patrão ressuscita e toma a barca de novo. Na Marujada, os que estão vestidos de azul representam o patrão ou cristão, e aqueles que estão de vermelho representam o contramestre, que são os mouros”. A história e recontada aos descendentes e, segundo Tim, até as crianças já sabem o porquê da divisão que, unida, encanta o público.

Situações inusitadas também acontecem nos bastidores das Festas de Agosto. O comandante da marujada deixa escapar: “os participantes tentam levar as férias para o mês de agosto e contam com a colaboração dos patrões, mas já teve marujo que foi mandado embora do serviço por causas das festas. Era trabalhador de uma grande empresa de fora, que não conhecia a nossa tradição”.

Embora o artista seja ele, com humildade a a bola: “artista para nós, é o povo que vai às ruas e espera o ano todo para apreciar a festa. Ficamos ansiosos, mas tudo que é feito com amor sempre dá certo!”